3 sinais de que você está trabalhando de graça na advocacia

O texto mostra que muitos advogados trabalham muito, mas lucram pouco, ou nada. Elencamos assim, três erros principais: 1º não saber o valor real da própria hora; 2º baixar honorários para agradar clientes; 3º misturar finanças pessoais com as do escritório.

GESTÃO INTELIGENTE

Dr. Gabriel Azevedo

8/11/20256 min read

Você já parou para se perguntar se, de fato, está ganhando dinheiro com cada caso que aceita?
Não estou falando de ver dinheiro entrar na conta, estou falando de lucro real, aquele que sobra depois que todas as despesas são pagas e que permite que o seu escritório cresça.

O que vejo, todos os dias, são advogados confundindo movimento com resultado. A agenda cheia, as horas extras, o celular que não para… tudo isso passa a falsa sensação de prosperidade. Mas quando chega o fim do mês, a conta não fecha. Trabalhou-se muito, mas o saldo real é frustrante.

A verdade é dura e precisa ser encarada: na advocacia, trabalhar mais não significa ganhar mais.
Pelo contrário, muitas vezes significa ganhar menos, porque você está dedicando tempo e energia a casos que não são financeiramente viáveis, ou pior, que estão drenando recursos do seu escritório.

E aqui vai o alerta: o mercado jurídico está cheio de profissionais talentosos que permanecem presos a essa armadilha por anos, acreditando que “uma hora vai melhorar”, quando, na realidade, estão apenas mantendo a roda girando no vazio.

Se você se identifica com essa sensação, é hora de fazer um diagnóstico honesto. Existem sinais claros de que você pode estar trabalhando de graça e, se pelo menos um deles fizer parte da sua rotina, é um indicativo de que a sua advocacia está operando no piloto automático financeiro.

1. Você não sabe quanto vale a sua hora

Esse é o erro primaz, e, infelizmente, é o mais comum entre advogados autônomos e pequenos escritórios.
Sem saber exatamente quanto custa para manter o seu trabalho funcionando, você se apoia em valores que soam razoáveis ou que o mercado costuma cobrar. Mas o que “parece bom” muitas vezes não paga nem o básico para manter as luzes acesas.

Quando você não calcula o custo real da sua hora, cada contrato que fecha se torna uma aposta às cegas: você não tem clareza se aquele caso vai gerar lucro ou se está apenas comprando mais trabalho para si mesmo. É como navegar em mar aberto sem bússola, qualquer direção serve, mas nenhuma garante que você vai chegar ao destino certo.

O cálculo do valor da hora não é só um número frio em uma planilha. Ele representa o seu limite mínimo de sustentabilidade. É o que garante que, ao dizer “sim” para um cliente, você também está dizendo “sim” para manter seu escritório saudável e sua vida pessoal em equilíbrio.

O valor da sua hora precisa cobrir:

  • Despesas fixas (aluguel, energia, internet, softwares jurídicos)

  • Despesas variáveis (custos processuais, deslocamentos, impressões)

  • Pró-labore (seu salário, que não é luxo — é obrigação)

  • Margem de lucro (o que vai financiar crescimento, investimentos e segurança financeira)


Pare agora e faça esse cálculo. Some todos os custos mensais do seu escritório e da sua remuneração, divida pelo número de horas produtivas que você tem no mês e estabeleça esse valor como referência interna mínima. Negociar abaixo disso é aceitar, de forma consciente, que você vai trabalhar de graça.

2. Você fecha honorários para agradar o cliente

Muitos advogados confundem flexibilidade com submissão comercial. Abrir mão de parte do valor por uma negociação estratégica é uma coisa; cortar honorários pela metade, apenas para não perder o cliente, é outra completamente diferente e perigosa.

Quando você baixa o preço apenas para “fechar o contrato”, está, na prática, pagando para trabalhar. É como financiar o problema do cliente com o dinheiro do seu próprio bolso. E o que isso causa? Exatamente o oposto de um relacionamento saudável.

O cliente que compra apenas pelo preço baixo dificilmente enxerga valor no serviço. Para ele, você é apenas mais um prestador barato e, nesse papel, será sempre substituível por alguém que cobre menos. Além disso, esse perfil de cliente costuma gerar mais demandas, mais urgência e menos paciência. O resultado? Mais trabalho, mais estresse, menos lucro.

Dar desconto indiscriminadamente é um sintoma, não uma estratégia. É sintoma de que você não tem clareza sobre seu valor, ou de que não sabe comunicá-lo de forma convincente antes de chegar à conversa sobre preço. Se a única forma de convencer alguém a fechar é oferecendo desconto, o problema não está no cliente, está na sua abordagem.


Aprenda a apresentar o seu valor antes de apresentar o seu preço. Mostre ao cliente o que ele está comprando: segurança jurídica, experiência, tempo poupado, riscos evitados e resultados que só você pode entregar. Quando o cliente entende o impacto do seu trabalho, o preço deixa de ser o único critério de decisão, e o contrato deixa de ser uma corrida para o fundo do poço.

3. Você mistura contas pessoais e do escritório

Esse é um dos erros mais destrutivos e, ao mesmo tempo, um dos mais subestimados na advocacia.
Quando o dinheiro do escritório e o dinheiro pessoal se misturam, você perde a noção exata de onde está ganhando e onde está perdendo. É como operar um negócio sem painel de controle: você até vê o avião voando, mas não tem ideia de quanto combustível resta.

O cenário é mais ou menos assim:

  • O escritório paga a conta de luz da sua casa.

  • O seu cartão pessoal paga o café com o cliente.

  • O reembolso de custas vai parar na conta errada.

  • O pagamento de um contrato entra, mas no dia seguinte já está sendo usado para despesas pessoais.

O resultado? No fim do mês, não existe clareza sobre o que é lucro, custo ou gasto pessoal. Você sente que trabalhou muito, mas a sensação de “o dinheiro sumiu” se repete.

Essa confusão gera dois problemas sérios:

  1. Falsas percepções de lucro: você acha que está ganhando mais do que realmente está, porque mistura entradas que não são lucro com seu faturamento.

  2. Ausência de planejamento: sem saber o que é do escritório e o que é seu, você não consegue se pagar corretamente, nem criar reservas para momentos de baixa demanda.

É como tentar encher um balde furado: não importa quanto dinheiro entra, ele sempre desaparece. E, enquanto você não separar esses mundos, será impossível criar estabilidade financeira e crescer com segurança.


Abra contas separadas para pessoa física e jurídica. Defina um pró-labore fixo, como se você fosse funcionário do seu próprio escritório. Dessa forma, o dinheiro do escritório financia o negócio, e o seu pró-labore financia a sua vida pessoal, cada um no seu lugar, sem cruzamentos perigosos.

Por Fim

Trabalhar de graça na advocacia não significa atender clientes sem cobrar honorários: significa cobrar valores que não sustentam o seu negócio, aceitar contratos que não cobrem seus custos e manter um modelo financeiro que drena sua energia e inviabiliza o crescimento.

Ignorar esses sinais é perpetuar um ciclo silencioso de desgaste. É se iludir com o volume de trabalho enquanto a base financeira do escritório se fragiliza mês após mês. É permanecer ocupado demais para perceber que está construindo uma carreira sobre areia movediça.

Por outro lado, reconhecer esses padrões e agir para corrigir é o que separa o advogado que sobrevive do advogado que prospera. Quando você sabe exatamente quanto vale a sua hora, apresenta seu valor antes do preço e mantém as finanças pessoais e do escritório separadas, cria um sistema saudável, onde cada contrato contribui para fortalecer o presente e financiar o futuro.

O ponto é simples: ou você controla o dinheiro, ou o dinheiro (ou a falta dele) vai controlar você.
E na advocacia, não existe espaço para improvisar na gestão. Quem não assume as rédeas financeiras do seu negócio acaba sendo refém do mercado, dos clientes e até de suas próprias decisões mal calculadas.

O momento de ajustar o rumo é agora. Não espere “o próximo contrato” ou “o mês que vem” para começar.
O trabalho duro só se transforma em resultado real quando está sustentado por método, clareza e disciplina. E se existe um caminho seguro para isso, ele começa reconhecendo esses sinais — e agindo antes que eles se tornem irreversíveis.

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ADVOCACIA PARA ALÉM DO TERNO